Noite em Aracaju, saí para jantar e caminhei pelo calçadão
sob uma suave brisa marinha que tocava meu rosto insistentemente enquanto
olhava em busca de qual lugar escolheria para fazer a minha última refeição do
dia. Vi um restaurante que me agradou pela aparência e entrei.
Assim que me assentei, comecei a degustar um outro tipo de
alimento, aquele que nutre a alma por meio do som. Fiz meu pedido do prato e,
enquanto aguardava que fosse preparado, permaneci em êxtase pela melodia que
ouvia a ecoar suavemente pelo interior do estabelecimento. Estava ali à frente
aquele cantor solitário, com sua voz branda e baixa a melodiar em tom intimista
saudosos clássicos brasileiros. Não era como os cantores de churrascaria que eu
já ouvira antes, que fazem questão de se mostrar presentes, encarando o público
à espera de um aplauso ou um bilhetinho solicitando uma canção específica. Não,
não era. Com seu olhar introspectivo e cabisbaixo, parecia sentir cada nota que
tirava das cordas do amigo violão em acompanhamento das notas que saiam quase tímidas
das suas cordas vocais.
Eu supunha entender o que se passava com ele, pois também
estava ali acompanhado unicamente por minhas reminiscências, alheio a tudo o
que se passava ao meu redor nas conversas entre amigos, familiares e casais. O
cantor e seu violão, ambos aparentando não se importar com o público, apenas em
sentir a música, o seu repertório, escolhido por motivos a todos nós
desconhecidos, mas que certamente não eram banais. Evocava, assim, as mais
saudosas lembranças em meus pensamentos, o que fez com que eu tomasse a refeição
sem qualquer ansiedade, fazendo a digestão em ritmo cadenciado a aproveitar
cada momento daquele instante que logo terminaria.
Assim se deu. Pedi a conta e vi no papel que o garçom
apresentou o valor dos serviços prestados, sendo que o primeiro e o mais
significativo para mim foi o referente ao prato principal: “Couvert artístico,
voz e violão”. Novamente no calçadão, para retornar ao quarto de hotel, a brisa
agora tinha um outro sabor, o da satisfação pela agradável noite solitária de
jantar musical.
Carlos Bianchi de Oliveira
Aracaju, 26 de fevereiro de 2013.