terça-feira, 18 de novembro de 2014

Despertar

Hoje, o sopro da inspiração tocou minha pele,
E sentimentos adormecidos lentamente despertaram
Com a sensação de descanso bem aproveitado.

Ouvi o sussurro de uma doce toada ecoando no vale
Das lembranças que do peito não se separam
Pela necessidade de encontrar novas cores no mesmo quadro.

Sim, memórias de uma vida, momentos que não se repetem.
E por serem raros, são meus tesouros mais preciosos,
Que mantêm viva esta alma moribunda.

Meus pensamentos vão da saudade além
Para descrever em versos mais do que ossos:
O que pulsa, suspira, reclama, inunda.

Carlos Bianchi de Oliveira
26 de fevereiro de 2014

Rancor

Por favor, não faça isso,
Não jogue a vida pela janela,
Não arranque do rosto esse sorriso
Que sempre te fez tão bela.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Eterno Movimento

Pessoas vem e vão em ritmos distintos,
Vidas que passam como transeuntes
Cada uma com seus encantos
Dentro ou fora dos limites.

Vidas vem e vão em ressonância,
Pessoas que passam com seus costumes.
Dentro ou fora da estância,
Cada uma com seus portalumes.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2014

Visão de Mundo

Se falo da vida desse jeito,
Não pense que eu não tenho prazer nela,
Que eu desprezo a batida cadenciada do peito
E a contemplação da imagem que a íris anela.

Apenas me causa estranhamento
O desejo mórbido na mente humana
A corroer em compasso lento
A paz que a torna bela e plena.

Não é a natureza telúrica que me incomoda
Mas o que carregamos em nosso espírito.
Um instinto cruel de fera acuada
Pronta para o ataque sangrento.

Não há diálogo ou tolerância
Apenas ambição e egoísmo sobejos,
Capazes de todo tipo de violência
Por causa de animalescos desejos.

Como confiar na raça humana
Se o bem e o mal coabitam em latência?
Se a compaixão que do peito emana
É sucumbida pela insana prepotência?

A mão que diante de nós se estende
Não revela as intenções verdadeiras
Se é amiga sincera e presente
Ou ferina com garras rapineiras.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2014

Acidez

Como é possível compreender
Essa crítica constante e descomedida
Que tira a paz e traz o sofrer
Nessa nossa tão passageira vida?

Perfeição não há em parte alguma
E seus erros não estão ocultos,
Então por que ferir quem te ama?
Que prazer há em provocar desencantos?

Esses por você lacerados na alma
Poderão esfriar o afeto precioso,
Mas na sua necessidade extrema
Não te abandonarão no escuro fosso.

Então perceberá o tempo perdido
De amor e carinho que você se negou a ter,
Preferindo ter a aridez ao seu lado
À alegria que da estima se pode obter.

Lamento que seja assim tudo isso
E que a paz se tenha evadido
Por total falta de juízo
Da acidez derramada em grau elevado.

Carlos Bianchi de Oliveira

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Inacabado

Escute o que vou te dizer,
Em versos minha confissão em faço.
Não, eu não abandonei meu jeito de ser,
Apenas ouvi meu corpo, meu cansaço.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2014

Respeito

Não brinque desta vez,
Não agora. Não neste momento.
Por favor, respeite minha dor,
O meu lamento.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2014

Ciclo

Cai a noite, finda o dia
Como ciclo em espiral
A dizer que a esperança fugidia
Raiará na janela principal.

Como Fênix sempre viva
Como ondas a ir e vir,
A noite tem a alva
A lhe trazer novo luzir.

O que esmorece, murcha,
Declina do amanhã que nasce,
Porque não procura não acha
A fonte da vida noutra face.

Lagarta ou borboleta, tanto faz.
O que vale é o que se viveu,
E como se deu é o que apraz
Se foi cumprido o seu papel.

Então levante essa cabeça
Que ainda não acabou.
Não permita que a dor te impeça
De desejar que venha o sol.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2014

Valores

Alma, alma, não perca a calma.
Não enfraqueça teu espírito
Porque, na vida, não se apaga o que foi escrito.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2014

Autoconhecimento

Às vezes, olho para a vida
No afã de querer entendê-la.
Em vão, leio a distância percorrida
Que sempre deixa alguma sequela

Porque foi escrita em língua desconhecida,
Com caracteres amorfos e desconexos,
Que parecem nada explicar ainda,
Deixando meus sentidos perplexos.

E isso me cansa, fatiga,
Visto que ainda não cheguei ao fim.
O que se fez história antiga,
Como peso, então carrego dentro de mim

Nessa jornada rumo ao nada,
Esse mergulho que finda o orgulho
De qualquer vaga ideia de merecimento
Entre o fim e um dado momento.

Tolamente, tento ainda entender meu semelhante.
Irônico acreditar em tal possibilidade
Pois há mistério profundo em cada mente,
Distorcendo o sentido de toda insana idade.

Enfim, resta seguir em frente
E viver o que for possível,
Acreditando que no instante presente
Nada mais sou que um enigma volátil.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2014

Consciência

O erro que maltrata
Ensina a alma
Ou a mata.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2014

Contrastes

Sou serra e verde
Você, mar e azul.
Sou água doce que flui e mata a sede
Você, o sal que preserva de norte a sul.

Sou a flor solitária e poética,
Você, a coluna sólida, estática.
Sou o silêncio da quietude,
Você, o vulcão vivo e latente.

Sou a palma da mão estendida,
Você, o socorro que salva vida.
Sou a paz pelo medo,
Você, a luta sem segredo.

Somos contrastes em termos
Por sermos tão desiguais.
Porém não somos ermos:
juntos, formamos férteis trigais.

Então espero que a minha insanidade
Você perdoe liberalmente,
Porque entre o coração e a mente
Há uma ponte para cada metade.

Carlos Bianchi de Oliveira

Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2014

Ela

E ela mais uma vez apareceu.
Amarga, como sempre,
Teve sua presença indesejada.

Um pesar compartilhado, meu e seu,
Revela um destino que se cumpre
Quando tudo vira nada.

E ela zomba de nós sarcasticamente,
Ri do pranto revelado
Pela dor profunda sem consolo.

Dissimulada, ela mente,
Pois não tem o desejo saciado
E se achega com obscuro dolo.

Maldita! Por que nos visita?
Deixe-nos em paz!
Suma, não volte mais!

Não há mal que nos atormente
Maior que essa danada
Que vem de assalto, de repente,
Sorri, abate e mata.

Carlos Bianchi de Oliveira

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2014