quinta-feira, 18 de julho de 2013

Croniquinha 3: Aquele Brilho de Outrora


Há tempos deixei para trás o brilho incomum que carregava em meus olhos. Não sei exatamente como isso aconteceu, só sei que simplesmente cresci sem a exata consciência do significado desta palavra. Afinal, o que é crescer? O que se perde e o que se ganha? Definitivamente, não sei dizer. O que de fato estou apercebido é de que havia um brilho especial no modo como enxergava o mundo e a vida em si.

Se eu era feliz? Talvez, quem sabe. Mas meu presente era futuro e meu futuro era onírico. Não sei se o mundo era melhor, se as pessoas eram melhores, mas eu não via tudo isso com a racionalidade que vejo hoje. Essa mania de querer achar respostas e encontrar sempre uma lógica porque somos adultos e racionais. O brilho nos meus olhos vinha da paz que meu sonho permitia experimentar, do desconhecimento de que há no ser humano um egoísmo exacerbado e uma falta de amor fraternal. Era o brilho da inocência, da pureza que a infância nos permite ter, mesmo que relativa.

Ainda me lembro com estranha saudade do sentimento que habitava em meu peito ao imaginar ter entrado no mundo dos livros que contavam estórias de bosques e de pessoas que superavam todos os obstáculos para serem felizes para sempre porque eram boas e puras de coração.  Como ignorar essas imagens tão belas que tanto me fascinaram? E aquelas canções infantis, que mais encantavam pela melodia do que pela letra? É triste crescer e não sentir o mesmo palpitar ao cantá-las para uma criança, analisando que os versos nada têm de sublime a apreciar.

Hoje, meu olhar é analítico ou indiferente. Às vezes, disperso e distante. Um olhar sem brilho, cheio de preocupações. Um olhar frustrado com o mundo real e com o que acabei me tornando. Se sou feliz? Talvez, quem sabe. A vida adulta furtou de mim o que acredito havia de melhor, que ficou perdido, esquecido em algum lugar da minha doce infância.  Um dia, quando o tempo voltar a ficar mais longo por causa da idade avançada, espero reencontrar aquela criança, e ao olhar para ela, esboçar um sorriso despretensioso, e ver no reflexo daquela imagem infantil novamente o brilho no olhar, antes que a luz se apague.


Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Carvão e Giz


Há que se fazer da vida
Uma história de lição aprendida,
Escrita a carvão e giz.

Porque o que se quer é ser feliz.
O difícil é saber como isso é possível,
Quando há na fronte um véu

Que se chama incerteza,
Como uma vela acesa
Que se queima ou é apagada,

A depender da brisa que sobre ela é soprada.

Então, como é curta a existência,
É preciso encontrar a paz de uma boa consciência.


Carlos Bianchi de Oliveira

Rio de Janeiro, 31 de maio de 2013