terça-feira, 14 de novembro de 2017

Sem Respostas

Por que escrevo poemas?
Já vasculhei minhas múltiplas sinapses
Mas não encontrei a razão verdadeira.

Simplesmente escrevo poemas
Como se algo dentro de mim pedisse isso
Com intenso e suplicante clamor.

Tudo acontece tão de repente!
Parece que a inspiração teme a evanescência daquele instante,
E que o lirismo matreiro buscasse evadir-se da mente.

Então acorrento as palavras fugidias
Para que não sejam criaturas aladas em revoada.

Depois de pronto, novamente me pergunto:
Por que escrevo poemas?

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2017

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Autoconhecimento




Há momentos na vida
Em que o estar só tem algum sentido especial,
Uma sensação de prazer indescritível
Como se o vazio do isolamento não estivesse ali.

E a presença de si mesmo faz-se viagem,
Um mergulho profundo nas reminiscências
Para um descobrimento,
Um riso não compartilhado
Ou uma lágrima oculta.

Por isso, trata-se de um encontro perigoso,
Um risco não calculado,
Porque não sabemos quem exatamente somos,
Quantos eus o tempo gerou em nós.

Então, o estar a sós
Não deve durar indefinidamente,
O bem-estar que está em nós
Exige que algumas portas
Permaneçam trancadas bem fundo na mente.


Carlos Bianchi de Oliveira

Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2017

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Maturidade



Não me leia com tanta pressa assim,
Tenho tanto a te dizer,
Falar desse meu silêncio há tempos enigmático.

Talvez você se veja em mim
Como um reflexo distorcido,
E nem se importe, talvez.

Ou  faça um esforço para entender
O que eu mesmo não compreendo,
Como raiz que se aprofunda sedenta
Em busca de um fio fluido de sobrevivência.

Mas isso não importa agora
Que estou desarmado e sem medo
De qualquer julgamento precipitado.

Por isso, não se trata de um desabafo,
De algum desvario ou incredulidade.
Não é uma retratação por penitência
Descortinar a minha essência efêmera.

Nestes passos cansados e moribundos
Aprendi a ser discreto,
A guardar fugazes segredos
E saber que era uma irônica vaidade.

Fui infantil quando pensei ser maduro
E senil quando criança.

Deixei escapar meus tesouros
Quando aprisionei esperanças.

Então vieram os segundos, minutos, horas, dias e anos,
Com suas falsas certezas
E seus concretos enganos.

Chamamos isso de aprendizado.
Será de fato possível dizer que sabemos,
Se ao olharmos para o horizonte ele nos parece eterno?
E nossas antigas pegadas esmaecem até ficarem apagadas?

Tola percepção da ingênua maturidade!

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2017.


quarta-feira, 29 de março de 2017

Fraternidade

Abre-se a janela da alma
Serena e calma
Para aceitar os raios de luz
Que a vida plena produz.

Abre-se em seguida o sorriso
Leve e preciso
De quem está em paz
Porque sabe que de amar é capaz.

Abrem-se agora os braços
Para realizar fortes abraços
De perdão e respeito verdadeiros
Que unem eternos companheiros.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 29 de março de 2017

quarta-feira, 15 de março de 2017

Ferocidade


O homem é um louco alucinado
Pronto para o confronto insano
Que causa a si e ao outro o dano
Como se não houvesse da consequência o medo.

Um cão feroz acometido de raiva.

O homem não preza a paz
Porque ela não lhe apraz,
Ela não lhe permite mostrar a força
Do grito e do braço que sua natureza versa.

Um leão faminto na savana.

O homem dissimula mansidão e brandura
Como se racional fosse diante do desagrado,
Mas essa máscara pouco tempo dura
Deixando o verbo totalmente dilacerado.

Um tigre indócil quando acuado.

Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 15 de março de 2017