Há tempos deixei para trás o brilho incomum que carregava em
meus olhos. Não sei exatamente como isso aconteceu, só sei que simplesmente
cresci sem a exata consciência do significado desta palavra. Afinal, o que é
crescer? O que se perde e o que se ganha? Definitivamente, não sei dizer. O que
de fato estou apercebido é de que havia um brilho especial no modo como enxergava
o mundo e a vida em si.
Se eu era feliz? Talvez, quem sabe. Mas meu presente era
futuro e meu futuro era onírico. Não sei se o mundo era melhor, se as pessoas
eram melhores, mas eu não via tudo isso com a racionalidade que vejo hoje. Essa
mania de querer achar respostas e encontrar sempre uma lógica porque somos
adultos e racionais. O brilho nos meus olhos vinha da paz que meu sonho
permitia experimentar, do desconhecimento de que há no ser humano um egoísmo
exacerbado e uma falta de amor fraternal. Era o brilho da inocência, da pureza
que a infância nos permite ter, mesmo que relativa.
Ainda me lembro com estranha saudade do sentimento que
habitava em meu peito ao imaginar ter entrado no mundo dos livros que contavam
estórias de bosques e de pessoas que superavam todos os obstáculos para serem
felizes para sempre porque eram boas e puras de coração. Como ignorar essas imagens tão belas que
tanto me fascinaram? E aquelas canções infantis, que mais encantavam pela
melodia do que pela letra? É triste crescer e não sentir o mesmo palpitar ao
cantá-las para uma criança, analisando que os versos nada têm de sublime a
apreciar.
Hoje, meu olhar é analítico ou indiferente. Às vezes,
disperso e distante. Um olhar sem brilho, cheio de preocupações. Um olhar frustrado
com o mundo real e com o que acabei me tornando. Se sou feliz? Talvez, quem
sabe. A vida adulta furtou de mim o que acredito havia de melhor, que ficou
perdido, esquecido em algum lugar da minha doce infância. Um dia, quando o tempo voltar a ficar mais
longo por causa da idade avançada, espero reencontrar aquela criança, e ao
olhar para ela, esboçar um sorriso despretensioso, e ver no reflexo daquela
imagem infantil novamente o brilho no olhar, antes que a luz se apague.
Carlos Bianchi de Oliveira
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2013