Sou um corpo que vaga no imenso vazio
E que cai no copo deste oceano,
Uma luz que brilha no escuro arredio
E se apaga na fluidez líquida do engano.
Por isso, não chore em mim suas mágoas,
Não faça de mim o seu caminho.
Não sou Deus para secar suas águas,
Sou um moribundo que vaga sozinho.
Não acredite em minhas palavras.
Não se alimente de minhas promessas.
Sou o nada que afunda sobre o nada,
Sou uma estrada surda e abandonada.
Por isso, não acredite em minhas chagas,
Não curarei o mal que te atormenta.
Não sou o santo que te livrará das pragas:
Sou matéria, o pó que se levanta quando venta.
Meus sonhos jazem neste corpo frio,
Meu futuro, como o seu, também é sombrio.
Carlos Bianchi de Oliveira
21 de fevereiro de 2006